Finalizamos a quarta semana do festival e, agora, dá para sentir a finalização deste projeto chegando.
Quando escrito este relatório, a semana seguinte já caminha e a sexta e última semana, se aproxima.
Nas contas finais, já saldamos grandes resultados para a música independente, com espaços abertos em locais que nem imaginávamos chegar. Chegamos e fincamos uma bandeira de conquista e permanência em futuras oportunidades com emprego consciente e responsável, destes espaços.
O BH Indie Music se consolidou este ano. Desse prestígio, podem usufruir todos que dele participaram. O festival é realizado pelas bandas e para as bandas e artistas independentes - o faça você mesmo. Essa filosofia pretende ser a guia dos projetos futuros e o sustento da nova música. Artista independente é aquele que faz, não espera.
Seria maravilhoso que iniciativas como esta, pudessem mudar as mentalidades dos que ainda usam da música independente para se auto-promoverem. Que tornassem clara a diferença entre artistas independentes e bandas sem gravadora. Que fizessem valer mais a união que a segregação presunçosa dos que, com três acordes, ditam o que é bom e o que é ruim aos ouvidos alheios. Que dessem aos artistas e bandas independentes a auto-suficiência e a auto-gestão. Nesse momento, as regras e o compromisso ético não precisarão ser lembrados e o comprometimento com o coletivismo artístico será usufruído em benefício de todos.
Ao mesmo tempo, o projeto avança e com ele, mais pessoas chegam. E a aglutinação destas pessoas pode levar a uma mudança de comportamento ético que sustente toda a nova cadeia de música. Pertencem à ela aqueles que dela participam - este é o princípio democrático.
A semana começou na segunda, com um telefonema da Highfellas. O baterista da banda caiu e fraturou a mão e eles não poderiam vir ao festival. Com a queda da banda Tributo ao Nada, dias antes, pelo mesmo motivo, e com as justificativas da banda Hidrocor na sexta sobre falecimento do pai do tecladista da banda, a semana já estava bem prejudicada.
Começo a entrar em contato com todas as bandas daquela semana para me precaver de graves furos.
Pior que isso, bandas que nem sabiam do show marcado há mais de um mês. Foi o caso de Aura. Não haveria tempo de contactar bandas locais via e-mail. Tinha que ser cara-a-cara e a semana estava cheia de bandas daqui para isso.
COMEÇAMOS A QUARTA SEMANA NA OBRA
Tivemos a primeira noite de Obra com três bandas locais. Uma boa oportunidade para entendermos o trabalho das bandas junto ao público.
O sorteio de cortesias ainda está valendo e a noite lotou de não pagantes. Platéia garantida, mas como não trabalhamos ao ar livre, essa não é a prova ideal de sucesso.
Chego à Obra e encontro a Libertas D'Acta na porta.
Ainda do lado de fora e faltando os integrantes da banda, eram 21 horas e as passagens de som não haviam começado. O Gil reclama e com razão. Transfiro a bronca do Gil.
Cadê as outras duas bandas da noite? A passagem de som foi marcada para as 20 horas, não 21:30h. Quando esperamos bandas de outros estados, elas estão lá dentro às 20:01h. Aqui em BH, o horário não merece respeito.
Não, o esporro não é geral com a música. Canso de ir a espetáculos diversos onde no cartaz diz 21h e o espetáculo começa 21:40h. Deve rolar algum poder eletromagnético nas montanhas de Minas...
Não era o esperado, mas Libertas D'Acta, a única banda no local, monta o palco para abrir o show.
Na platéia, a família de Tiago (vocalista). É bom ver o comparecimento da família nos shows refletindo incentivo e aprovação às bandas.
Os primos não puderam entrar - a casa não permite a entrada de menores de 18 anos. Mas no Matriz, semana que vem, a banda não terá esse problema...
Primeiro show da banda n'A Obra.
A banda entrou muito tranqüila e mandou ver na platéia seu rock com pegada heavy e letras em português.
Aliás, a banda faz questão de dizer o que pensa e não se contenta com o que vê.
O Tiago tem um diferencial que acho, particularmente, muito bacana. É um jeito de falar gritando que termina cada frase em agudo oitavado - personalidade forte.
A segunda banda é Cosmocrunsh.
A banda começa de mansinho e, ao chegar na terceira canção, dispara.
Num determinado momento do show, Alexandre solta a voz numa escala limpa e em ascensão, sem o amparo de qualquer instrumento que o mantenha afinado. Sustenta o tom com a respiração controladíssima e é agarrado pela guitarra em afinação aguda, em harmônico perfeito.
Fiquei de boca aberta.
Convido a banda para um show relâmpago no Motorock, na mesma semana. Topam.
E Os Agulhas encerram a noite e sua participação no III BH Indie Music.
A banda também realizou o último show com o Luis Borges na bateria.
Não deixou de apresentarem músicas como Papai Mick e Eu Odeio Você pro delírio da platéia.
Luis encerrou sua participação na banda em estilo. Tocou tudo e mais um pouco.
A banda Os Agulhas foi uma das melhores apostas do BH Indie Music.
A banda passou por um processo pré-seletivo em duas etapas e se classificou na Seletiva Final.
Esperamos que continue a estrada daqui pra frente.
QUINTA-FEIRA NO MATRIZ
Quando pensamos na promoção dos 20 primeiros não pagarem entrada nos shows do III BH Indie Music no Matriz, queríamos, com isso, beneficiar as bandas participantes.
Quando o motivo não é falta de tempo, é falta de grana, pela ausência da massa.
Como vimos fazendo, todas as quintas-feiras o projeto Matriz, tempo para os próprios shows, as bandas têm. Conseguir tempo para os shows das quintas-feiras no nosso espaço reservado e embrionário do projeto, durante o festival, não seria difícil, ainda mais com entradas liberadas. Mas existe aí uma terceira desculpa que ninguém tem coragem de dizer...
Foi-me dito que não publiquei liberação de portaria aos 20 primeiros para aquela quinta. Como não confio mais na minha memória, acreditei.
Na última quinta, uma legião de público de banda estava lá a fim das cortesias.
Isso deixou a casa preocupadíssima, e me deram uma bronca. Disse, ou não disse?
Como o inferno está cheio de boas intenções, nem dei justificativas à casa, sobre meu raciocínio primeiro.
Eu organizo as broncas do BH Indie Music, eles administram a casa e passo a bola naquela hora.
Às 21:49h, a legião se aproxima da portaria e os ingressos liberados foram cancelados e passaram a custar R$5,00, até às 22h.
Pagamos os custos da casa. Mas a banda, que convidou muitos amigos para o local com a deixa de ingressos liberados, foi tirar satisfação comigo.
Chamo-os para longe dos amigos e apresento-lhes a cena difusa:
Todos consumindo a primeira e não última cerveja. Todos de poder aquisitivo compatível aos R$5,00 cobrados. Todos amigos que estavam prestigiando o que era de graça, caso contrário, nem graça teria estar alí.
Que público é este para o seu trabalho, para a sua música? Daquele amigo que pede disco de graça autografado pra enfiar na gaveta?
Aquele que só vai no show de graça?
Aquele que tem 30 pau pra deixar na mesa do buteco, mas sempre tá sem grana pra ingresso de show?
Vislumbramos a cena juntos e decidimos:
- Se as bandas não têm força para valorizarem o trabalho delas, o BH Indie Music valoriza por elas.
Começam os shows.
Luis Curinga não demora muito mais que 3 compassos pra arrastar o povo do bar para a pista do Matriz e anuncia: A noite é do rock'n'roll, moçada.
Fábrica de Boatos fecha com competência sua participação no III BH Indie Music.
Uma platéia bacana aplaude a banda.
A fusão de platéias das bandas presentes foi válida para todos que se apresentaram na noite.
9S Fora Rock tocou pra grande platéia.
O próximo e último show da banda pelo III BH Indie Music será na Obra, próxima quarta.
Boa oportunidade de prestigiar a banda que mais levou a galera pra comparecer no festival e conhecer as bandas dele.
SEXTA-FEIRA EM DUAS CASAS: MOTOROCK E NAFTA PUB
Depois do último relatório em que narro a peregrinação de um espaço a outro nos finais de semana, choquei a galera.
- À pé, Malu. Não, não pode...
Gosto de caminhar e já tive carro. O mesmo foi raptado pelo Detran-MG e, por ser de SP e de 86, com motor remarcado, não sai de lá nem à pau.
Antes disso, andava à pé. Não era raro sair às 3 da manhã de um show e voltar da Savassi à Serra, do Centro para a Floresta, do Barro Preto à Savassi, da Serra para o Horto. Sem peso é mais fácil, claro. E essa liberdade de ir e vir, sem precisar de grana pra táxi é o que me fascina em BH.
Andar à pé não é problema do festival, faço isso no Projeto Matriz, também. Moro no Centro e me facilita muito os trajetos.
O que mais me preocupava era estar impotente numa hora de necessidade de locomoção, uma urgência qualquer que não se espera, nem se organiza.
Aceitei, com muito agradecimento, a parceria de corre do Diogo, da Simples.
Começamos no Motorock.
Lá, só deixei algum material e dei oi pras bandas que já estavam lá. Avisei que iria correr pro Nafta e que, mais uma vez, o Marco Antônio cuidaria deles e da portaria.
Estas são imagens das bandas do Motorock, feitas pelo Marco.
Cães do Cerrado.
Cosmocrunsh cobrindo a grade deixada pela ausência do Aura, ensaiou um baixista reserva só para esse show em especial.
Agradeço, já, a participação da banda no III BH Indie Music, mostrando parceira com o projeto e disposição à causa.
Essa é a Cosmocrunsh, de Venda Nova.
Bermes, de Nova Lima, trouxe a galera com eles.
E a noite do Motorock termina bem, enquanto ainda estamos no Nafta.
NAFTA
E chegamos no Nafta para mais uma noite.
Já encontro com todos: Flavio Junio, Hotel Tofu, G50 Gertrudes e Cuatro.
A casa já estava cheia, numa das melhores noites do III BH Indie Music no Studio Nafta Pub.
Mérito das bandas e da divulgação que elas fizeram.
Aquele rosto já era conhecido, pensava enquanto escrevia os release para a publicação da agenda da Quarta Semana.
Mas como ando vendo tanta gente e circulando em tantos lugares, da onde?
Flávio Junio me lembra. Estivemos juntos em Portugal, este ano. Ele com o Tizumba e eu com o Marcus Viana. O mais legal: nos conhecemos no dia do meu aniversário, que em plena terça feira, em uma aldeia lusitana, conseguimos comemorar até às 4 da manhã num Pub fechado para nós. E o mundo é pequeno...
Pequeno também era o Nafta pra tanta diversidade naquela noite.
Começam os shows com Flavio Junio & Mundo Pacumã.
Eu gosto muito dessa ousadia dos novos artistas independentes.
Flavio mistura tambor mineiro e sonografia eletrônica.
E que bom que estamos circulando ente o meio de música independente e não nos limitamos ao rock independente.
Entra G50 Gertrudes.
Desde os últimos shows que vi da banda, esse parecia ser o mais correto e limpo.
As canções já estavam prontas e com domínio - com a cara da banda.
O som da G50 Gertrudes, estava definido.
No final do show, conversando com Manuel (guitarra), ele me conta que a banda se encontrou com a chegada do novo baterista. A bateria é o coração, a respiração e o pulso de toda banda. A G50 estava viva!
Em seqüencia, entra a Cuatro.
A banda tem um rock calcado em influências dos anos 60 - Beatles, Jovem Guarda, entre outros similares. Compassos simples e diretos.
Das quatro bandas, a Cuatro era a única do gênero explicito rock'n'roll.
O Douglas (guitarra) me confessou, dois dias depois, que teve medo da programação, não voltada ao rock, deslocar a banda. Mas que ficou de cara como isso só veio a valorizar os estilos.
Viva a multiplicidade, a inter-generalização musical!
Para finalizar a noite, Hotel Tofu.
Era a primeira vez que Hotel Tofu fechava uma grade de shows.
A proposta era mais ousada que a mistureba musical daquela noite.
Mas tudo tinha sentido. Eles iriam findar o roteiro escolhido para aquela programação no Nafta, trazendo à luz, a explicação para tantos talentos diferentes juntos.
Uma noite que começou com tambor mineiro e sample, foi pra irreverência do alternativo rock da G50 Gertrudes, passa pelo classic rock billy e chega no folk cênico, deixa um registro de continuidade, um símbolo infinito - o equilíbrio final.
E todos estão lá para ouví-los, até o fim.
SÁBADO NO HOLLYWOOD E NO STONEHENGE
Lembram dos desfalques das 3 bandas de São Paulo, já no começo da semana?
Restou entrar em contato com o produtor responsável pelas bandas Julia Car e Dilei para saber se gostariam de ficar dois dias na cidade (sábado e domingo).
A paz estava abalada. Ninguém das bandas respondia. São Paulo não se comunicava há quase uma semana.
Na sexta-feira, o produtor foi evasivo e perguntou sobre equipamentos.
Entendem por quê produtores não podem participar de projetos como esse?
Uma madrugada destas, assistindo um desenho animado vi nossa história nele:
- O leão queria levar o macaco, que era um grande artista popular e querido pela criançada, para a escola do seu filho. Ele faz de tudo para um minuto de atenção com o macaco e fazer-lhe este pedido pessoalmente. Estava convicto de que o macaco não poderia dizer não.
O macaco, muito simpático com o leão, logo aceita o convite e pede ao leão para agendar com a tartaruga.
A tartaruga vai atrás, bem atrás... o leão volta, e diz à tartaruga que conversou com o macaco para ele ir à escola do seu filho na manhã seguinte e que o macaco tinha pedido a ele que agendasse o compromisso com a tartaruga.
A tartaruga, bem mal humorada, responde: NÃO! ELE NÃO PODE E NÃO VAI!
O leão tenta dobrá-la, e de nada adianta. Volta, ao macaco, lá na frente e explica que a tartaruga está fazendo pouco caso e que não quer agendar o compromisso. O macaco pede ao leão para explicar pra tartaruga que ele faz questão de comparecer e que ela o agende - uma ordem.
O leão corre de novo, no sufoco entre fotógrafos, fãs que rodeiam o macaco e, exausto, pisado, chega na tartaruga: ELE PEDIU PARA LHE DIZER QUE ELE FAZ QUESTÃO DE COMPARECER AMANHÃ E PEDE PARA VOCÊ AGENDÁ-LO.
A tartaruga, mal humorada, cara fechada, voz ríspida diz: NÃO. NÃO VOU AGENDÁ-LO.
Mais uma jornada do leão de encontro ao macaco. Acotovelado, pisoteado, chega ao macaco: DEVE ESTAR HAVENDO ALGUM ENGANO, SENHOR MACACO. A TARTARUGA NÃO QUER AGENDÁ-LO E INSISTI EM LHE DIZER QUE O SENHOR FAZ QUESTÃO DE COMPARECER, MAS NADA.
Aí o macaco explica: SENHOR LEÃO, EU CONTRATO A TARTARUGA PARA ELA DIZER NÃO POR MIM. É QUE EU NÃO TENHO CORAGEM.
Sem nenhum retorno das bandas, nenhum pedido de desculpa pelo não comparecimento aos shows de sábado no Hollywood, desmarcamos a programação da casa, às 23:00h.
Com amplificadores para a Dilei no banco de trás do carro do Diogo - um corre que demos ao Studio Hum, desnecessário, espero para as duas ações obrigatórias:
1. Um pedido de desculpas para um sábado perdido na casa Hollywood;
2. Um acordo com a banda Nonada para não fazermos o show e não bancarmos um prejuízo de R$100,00 de equipamentos, daquela noite.
É regra, à partir de agora: para a próxima edição do BH Indie Music, em 2010, ao primeiro contato de um produtor, a banda será desclassificada.
Convido a banda Nonada aos shows do Stonehenge e partimos pra lá.
STONEHENGE
Sabem quantos fãs têm até hoje, os Beatles, Led Zeppeling, AC/DC, The Doors, Rolling Stones?
O público não quer saber se é Mick Jagger ou não. O que vale é a magia dessa paixão cega.
Quem é culpado pelo apelo cover na noite belo horizontina? O público? Os espaços? Ou a falta de grandes abalos estruturais da cena autoral?
Vamos pegar o banquinho da humildade e rever os valores. Não somos Beatles, mas se quisermos ter nome lembrado no futuro, vamos ter que levar muita gente gritando e desmaiando por nós pra platéia. Bom, já tá na hora de levantar e engrossar o coro dos shows dos nossos amigos da cena e pedir o mesmo em retribuição nos nossos shows.
O Stonehenge pediu a participação do público do indie. Nós não nos cansamos de exigir esta presença. Como muitos se fizeram de surdos, ou na pior das situações: "não sou eu quem vou tocar lá, então deixa o pau quebrar." , mais uma vez: eu organizo o BH Indie Music, as casas administram seus estabelecimentos comerciais.
O Stonehenge decidiu por aplicar em todas as noites do BH Indie Music, uma banda cover. Isto atingiu a bilheteria, na verdade, mais favoravelmente que desfavoravelmente, às bandas. Mas como não falamos de dinheiro como busca, mas como retorno, o mais intrigante seria essa comunhão de valores opostos, num mesmo espaço.
Em nenhum momento se cogitou, na idéia deste projeto, a ajuda financeira e de casa cheia por parte de bandas covers. E, dentro dos princípios do BH Indie Music, não é honesta tal parceira, como também não seria fortalecedora do mercado da nova música.
Como os universos se respeitariam e entrariam em comunhão num mesmo espaço e divisão de palco e equipamentos? Eu estava por lá para resolver essa aproximação.
Como acredito na pressão, para a obtenção de resultados grandes. Aquela situação era propícia para a fermentação de boas coisas. A casa estava cheia. Metade indie, metade cover.
Fãs do The Doors, ouviriam Os 4 Ventos, Bertola & Os Notívagos e Luis Curinga. Era o esperado. E isso acontece, de fato.
Abre Bertola.
Bertola estava apreensivo, durante toda a semana com o fato.
Estava um pouco decepcionado, porque é uma das caras que mais circula pelo festival. Participa, ajuda, aplaude os outros.
Eu não conseguia adiantar-lhe grandes informações que o aliviasse. Pedia tranqüilidade e prometia que estaria com ele o tempo todo, para tudo dar certo.
Quando começou o show de Bertola, pouco a pouco o quartinho foi enchendo e toda a fúria rockeana concentrada na expectativa foi o tempero certo pro show.
Um novo álbum já chegou à BH e Bertola apresenta em primeira mão no Stonehenge.
Showzão!!
A segunda banda era Os 4 Ventos.
Uma programação pensada para não atrapalhar o trabalho da banda, já que a escalação d'Os 4 Ventos, foi feita uma semana antes e sem a novidade da mescla.
Nossa preocupação: será que entenderiam a banda em meio a tanto rock clássico?
Os 4 Ventos não deveriam abrir como quem sussurra segredo. Deveriam chegar gritando, quebrando tudo. Foi o que fizeram.
Um super show. Tudo bem, canso de falar isso da banda, mas cada show deles é um desafio maior e eles o superam.
Parênteses especial.
"A Rafa foi a primeira mulher baterista da história do Stone."
Depois do The Doors, a gente continuaria com Luis Curinga. Mas era nossa preocupação que o show não começasse tão tarde e que o show do The Doos não avançasse noite à dentro.
Conversei, muito antes com a banda e apresentei o projeto à eles. Eles não sabiam o que estaria acontecendo e nem o que era BH Indie Music.
Quando viram, entenderam. O que fazíamos era o avesso do avesso e, jamais uma concorrência.
Começa a parceria e o The Doors Cover faz um show cravado de 1 hora de duração em respeito ao projeto e à Luis Curinga. Afinal, o mundo é pequeno e todos se conhecem.
Obrigado The Doors Cover.
As bandas estavam lá. Todas, incluindo Doors.
O público já estava pela metade, mas Luis Curinga mandou o mesmo show que manda pra platéia lotada.
Valeu Luis e banda (Norberto e Lucas) por aceitarem o convite em cima da hora para cobrirem a falta das bandas de São Paulo. Mais que perfeito estes deslizes dos imprevistos.
Já eram 6 horas da manhã quando saio do Stonehenge. Quem me espera? Diogo e Daniel Pertence que sacudiram aquele quartinho a noite toda e até cantaram junto com as bandas.
Vamos embora pra casa. Daniel teria convidados às 10 horas da manhã em sua casa. Diogo, o último dia de descanso do final de semana.
Obrigada gente, pela carona, incentivo, amabilidade, cordialidade, presença e participação. Amigos que fazemos no caminho...
DOMINGO NO CONSERVATÓRIO
Com as furadas da semana, tínhamos três bandas para o Conservatório, naquele domingo.
A vontade que dá de ter ódio, quando ouço que as bandas não tem espaço, é incomensurável, hoje.
Tenho cometido um erro grave em dizer às bandas o cronograma dos shows com antecedência. Voltamos à idade das pedras que não rolaram. As bandas chegam na hora do show - a cena já comentada da viola no saco.
No local, quando cheguei, já estava o Mário Bróz.
Minutos depois, chega um ônibus. Sim, um ônibus não convencional. Dele, descem instrumentos, equipamentos e muitas pessoas. Era a Konkem mobilizando geral Vespasiano para BH.
Eles encheram a casa, naquele domingo. E a ralação real de banda que me disse há 30 dias atrás que iria ajudar o projeto é comprovada em palavra e ação pela Konkem.
Sobem no palco e fazem valer o motivo pela compra dessa briga doida. O som deles é de fuder. Eles querem subir, com mérito, talento e trabalho de ralação. Não tem medo de crescer e nem vergonha de agir. Fizeram.
Montam o palco com conhecimento. Regulam para serem bem ouvidos e seguidos.
Swing, funk, hip-hop e vocal de personalidade e afinação.
Valeu Konkem! A atitude de vocês fez valer a permanência desse projeto na casa. Na continuação dele, a casa é de vocês, sempre.
Após uns 20 minutos de show da banda, vou pra fora esperar Utopia que não aparecia.
O Cido me pediu para fazer um show depois das 6, porque tinha prova do ENEM, muitas semanas antes. Respondi o e-mail dele, dizendo que a banda deveria estar no local, antes dele.
Já no meio da semana, o escândolo do ENEM está em todos os noticiários.
Cadê Utopia que não aparecia?
Apareceu quase no final do show da Konkem que já havia começado depois das 18h.
Quando os vi chegando, logo disse que estava pensando que a banda não viria. Sei lá, tanta maluquice aquela semana, que mais uma já era esperada.
Entraram.
Cinco minutos depois, saíram.
- E aí Malu, que hora a gente vai tocar?
Falei que os esperei até gradear a programação e que o Mário Bróz já estava escalado pra tocar depois.
- É porque tenho um compromisso e preciso saber que horas a gente toca.
Falei:
- Galera, só vejo vocês aqui, 30 dias depois do festival ter começado. Chegam atrasados e me perguntam que horas vão tocar? É só chegar, tocar, mais um show, um palco fácil...?
A galera do Rio, de Brasília, marco às 16 horas e estão aqui 15:30h. O que acontece nessa cidade, com vocês?
Bom, temos pouca ou nenhuma intimidade para intimidações e o papo não foi confortável.
- Malu, você não sabe se a mãe de um passou mal, se a banda teve motivo pra atrasar.
Galera, não nasci ontem, nasci em 73. Tenho bandana de idiota?
Paciência, zero.
Tenho a maior cara de pau pra pedir espaço pras bandas, pra vender discos dos outros, indicar nomes... mas não posso colocar minha cara à tapa por aí e apanhar em nome de ninguém. Num primeiro descompasso, páro o ensaio. Num primeiro tropeço, mudo o rumo. Quem perde com o desleixo são os deixados de lado. Não vale perguntar por quê, depois.
Se acho um desperdício de talento, brigo. Se não, nem faço questão de perder retórica.
Nada muda. Segunda banda é Mário Bróz.
Foi muito válido ouvir o trabalho completamente autoral da banda. É que no ano passado a banda participou do festival mostrando um disco novo que apresentava clássicos de outros autores brazucas.
A banda do Visso tem tanto tempo quanto a minha, de estrada. E muitas histórias e letras.
Pensei outro dia, conversando com um motorista de táxi que conhecia bandas dos anos 90 que tiveram trabalho autoral, mas pra sobreviver, tinham bandas cover, que se este projeto tivesse nascido em 98, teríamos salvo uma galera do ostracismo autoral.
Até hoje vejo bandas fazendo tributos em seus discos à autores famosos. Tem produtor musical, peixe grande, que aposta no produto "tributo". Por que será? É porque gera direito autoral pra editora e detentores de direitos. Criam bands machines de dinheiro pra eles.
Mário Bróz tem novo disco saindo - só autoral. Só Mário Bróz. Parabéns galera. Foi bom ouví-los.
Enfim, Utopia.
Os garotos sabem fazer música. Há bem pouco tempo, ainda no início de 2009, foram questionados pelo pouco trabalho autoral. Passaram pela barreira e escreveram mais canções.
Num flash de criatividade, construíram músicas bem distintas, mas com a cara deles timbrada em todas elas.
Eu acredito na banda. Por quê? Porque eles acreditam primeiro.
Mas tenho achado melhor deixar que cada um tenha a sua própria crença e eu não me intrometo mais. Acreditar no talento alheio é coisa de produtor. Eu que só estou nessa porque tenho banda, devo enxergar em silêncio os talentos, ou a falta deles e acreditar no meu.
Conversas desagradáveis com bandas daqui, não foram poucas. Essa não chegou a ser a primeira da temporada e nem seria a última.
O que mais me intriga é que reunimos todas as bandas, 6 dias antes do festival e conversamos sobre os percalços todos do projeto e sobre a participação de cada um nele.
Repetir, ressaltar, é tarefa válida e a faço, diariamente.
Mas comungar com o erro alheio, não. Passou da minha responsabilidade e atinge a minha competência.
Estou aqui pra ajudar todo mundo. Que não me atrapalhem ou atrapalhem aos outros.
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